Trekking Pico dos Marins - Piquete - SP
Trekking, Montanhismo, Pico dos Marins, Serra da Mantiqueira
1. *O Anjo da Montanha*
Novamente chegou o tão esperado dia, não falei que ia gostar disto mais um trekking em poucas horas se iniciará, desta vez será o grandioso Pico dos Marins, segundo os dados oficiais é um dos pontos mais altos do estado São Paulo, e por muito tempo foi considerado o maior e depois de algumas revisões perdeu esse título, para outro maciço rochoso da Serra da Fina, independente desta condição será a primeira experiência em trekking com subida em uma montanha com a altura 2420 metros de altitude e todas as suas dificuldades durante o percurso.
Depois de um dia corrido de trabalho e com a experiência anterior de arrumar a mochila cargueira, menos de meia hora a mochila estava pronta, o carro abastecido e fui encontrar meus companheiros de aventura, minha linda desbravadora namorada a Memê (anos depois se tornaria minha esposa e mãe da minha filhinha Maria Clara) e o meu grande amigo e fiel escudeiro de fechamento das trilhas destas montanhas da vida Yudi, partimos rumo a Piquete cidade onde está localizado o Pico de Marins.
Depois da saída de São Paulo com aquele trânsito maluco, pegamos a Rodovia Presidente Dutra, alguns quilômetros distantes à frente nós saímos da rodovia que liga SP – RJ, e fomos em direção à cidade de Piquete, até então os mapas disponíveis estavam sendo seguidos à risca, passamos pela cidade de Lorena e após cruzarmos o Rio do Ronco limite de município estávamos na cidade de Piquete, em uma estrada bem sinuosa (coisa que se tornaria comum até chegarmos ao nosso destino) chegamos à zona urbana da cidade, já era mais 22 horas e já não tinha mais ninguém pelas ruas (bem cidade do interior), cruzamos a rodovia que corta a cidade, neste momento começou a nossa aventura para chegar a Marins.
Devido a uma falha de localização dada pelo GPS, perdemos a entrada da estrada vicinal que leva até o Pico dos Marins, apesar de que vimos à placa, neste momento o mapa que tínhamos no papel impresso era nossa única referência, seguimos em frente conforme este mapa em sentido a cidade de Delfim Moreira – MG, após cruzar uma serra SINUOSA com letra maiúscula uma das piores que já passei curvas fechadas uma seguida da outra, um forte nevoeiro e a visibilidade prejudicada, após todo este perrengue passamos chegamos a Delfim Moreira.
Delfim Moreira uma pequenina cidade do interior de Minas que tem esse nome em homenagem ao advogado mineiro que foi presidente da Republica na década de 20 , a história desta cidade é curiosa um prefeito sonhador queria transforma-la na Campos do Jordão mineira devido ao clima de montanha da Serra da Mantiqueira, porém não conseguiu o que vimos e gostamos foi uma Cervejaria bem bacana no centro da cidade e uma igrejinha no fim da rua principal.
Não estávamos tão perdidos mais meio sem rumo, seguimos em frente no nosso desafio agora em sentido à cidade de Marmelópolis segundo informações nesta cidade tinha pelo nosso possante mapa acesso ao acampamento do Marinzeiro, local onde íamos pernoitar. Não muito diferente da estrada anterior uma sucessão quase infinita de curvas, chegamos à minúscula cidade de Marmelópolis que tem esse nome devido a grande quantidade de plantações de marmelo fruto utilizada para preparação de doces e compotas.
Entramos na cidadezinha menos de 5 minutos cruzamos a cidade, neste momento nosso mapa acabava e por alguns minutos e idas e vindas nós consideramos perdidos, o que restava era perguntar para alguém que estivesse na rua de madrugada como chegar ao acampamento do Marinzeiro. Na primeira tentativa perguntamos para um cidadão que estava manguaçado e disse que era guia de Marins, tentou nos orientar mais sem sucesso.
Voltando pela rua principal da cidade avistamos um carro parado com a lanterna acesa essa era nossa esperança, nós paramos e perguntamos se os caras sabiam chegar ao acampamento, falarão que não mais uma pessoa estava vindo encontra-los que poderia ajudar com está informação.
Minutos depois uma senhora com coberto nas costas veio buscar os caras e falou que iria nos ajudar, disse para segui-la até sua residência e dali para frente iria nos orientar de como chegar ao nosso destino. A senhorinha Dona Raquel posso dizer que foi um anjo no nosso caminho, apesar das suas orientações serem meio atrapalhadas, todas as bifurcações do caminho virem à direita sempre e depois vocês vão cruzar uma ponte e quando tiverem dúvida virem à esquerda, apesar de meio enigmática essa foi a nossa orientação que este anjo bom nos passou.
Nos despedimos dela com cordial cumprimento de boa sorte e seguimos em frente, nossas esperanças estavam nestas orientações, com um detalhe já eram mais de uma hora da manhã e a comida do jantar da galera que ia participar do trekking com a gente estava comigo no meu carro, portanto eu teria que chegar ao acampamento de qualquer jeito, graças às orientações que serviram de referência e seguimos a risca só com um detalhe tinha mais uma curva a esquerda, está por sorte tinha a única placa com orientação que avistamos na estradinha de terra em todo o percurso.
Após cruzar a ponte que a senhorinha nos falou, alguns quilômetros à frente nós encontramos uma placa indicando o acampamento base de Marins subimos a estrada a esquerda um pouco mais aliviados e conseguimos chegar ao nosso destino e vencemos nosso primeiro desafio.
Estacionamos o carro e fomos em direção ao abrigo para tentar descansar um pouco, porque dormir seria meio impossível, já que estava programado acordar às cinco horas da manhã, estava muito, mas muito frio, nos arrumamos numa cama qualquer e tentamos descansar. Poucas horas começou a movimentação das pessoas que iriam subir até Marins, devido ao pouco espaço no cume para pernoitar com as barracas era necessário acordar cedo e começar subir para garantir o seu lugar.
A nossa expedição até Marins foi bem organizada pela nossa equipe do Pé no Mundo a galera já tinha subido um dia antes até o cume para garantir nosso lugar lá em cima, e quando todos chegassem às barracas já estariam posicionadas e prontas para serem habitadas. Esta ideia foi muito boa e ajudou muito quando chegamos ao cume, cansados da maratona da subida.
Devido à movimentação e o barulho das pessoas não tivemos escolha se não levantar as quatro e pouco da manhã bem antes do programado, terminamos de nos vestir e acertar os últimos detalhes da mala e em seguida fomos tomar aquele café da manhã reforçado que o pessoal do abrigo fez, encher garrafas com água e receber os últimos detalhes do nosso trekking.
O Pico dos Marins fica localizado na cidade de Piquete, e foi batizado com esse nome da época em que Dom João III era o rei de Portugal que mandou para o Brasil dois bandeirantes com a missão de "colher" ouro e prata em nossas terras, eles começaram desbravando a Mantiqueira e saíram pelo Vale do Rio São Francisco até chegarem à região do Pico do Marins.
Depois de dois anos de expedição, Brás Cubas (um dos bandeirantes) adoeceu e voltou para a Europa com boa quantidade de ouro e de prata, Luiz Martins - o outro pioneiro - ficou no Brasil, como ele passava com frequência pela zona do Pico, batizaram-na de região do Martins por causa da presença do bandeirante. Anos mais tarde, os tropeiros que desciam a Serra transportando a mercadoria do sul de Minas para o porto de Paraty, tinham um vocabulário muito pobre, sertanejo e rude, portanto, eles não conseguiam, ao passar pela região, pronunciar Martins e com isso falavam Marins e o batismo então se deu por causa do erro de pronúncia.
A primeira expedição realizada para alcançar o cume de Marins foi em 1911, não existem registros de quem foi o primeiro desbravador até chegar lá, mais hoje várias fazem diariamente dos meses de maio até setembro o percurso.
A cidade de Piquete tem na sua bandeira oficial do munícipio uma homenagem ao Pico dos Marins, onde ele aparece no pavilhão oficial, à cidade tem esse nome porque a palavra piquete significa corpo de tropas de soldados que formam guarda avançada ou porção de tropa a cavalo, nos primórdios Piquete era um posto fiscal dos governantes de obrigatória parada. Hoje também é conhecida como cidade paisagem devido a sua geografia montanhosa e muito bela.
2. *O caminho de pedras*
O fascínio pela montanha e suas paisagens servem de impulso para fazer esse trekking, o grau de dificuldade é bem maior do que a Travessia Ruy Braga que havia feito anteriormente, depois de algumas pesquisas e vídeos para melhorar o conhecimento sobre o lugar e buscar prever o que encontraríamos pelo nosso caminho, o grande momento chegou posso antecipar que tudo que li posso aumentar com propriedade as informações e viver tudo isso foi uma experiência incrível para todos que estavam lá, mesmo os que iriam fazer pela primeira vez e os outros já tinham alguma experiência.
Desde os primórdios os homens buscam o alto das montanhas sem razão aparente, o que leva as pessoas a buscarem o alto das montanhas, pode ser por superação da condição humana, transcendência ou tão somente pela sensação da conquista. Essas são questões tão antigas como a própria humanidade. A montanha sempre esteve presente no imaginário das pessoas em todas as civilizações, através da mitologia que fundamenta e guia a história dos povos.
O Monte Olimpo era a residência dos deuses para os antigos gregos, e através da mitologia, influenciou diretamente toda a cultura ocidental, no folclore japonês, as montanhas são sagradas e todas possuem uma atmosfera sobrenatural. O Monte Fuji, por exemplo, seria a passagem para o outro mundo e na mitologia Taoista os imortais iam viver no cume dos grandes montes, o Monte Roraima sustenta a morada do deus Macunaíma.
Onde existir um pico imponente, marcando a paisagem, foi ou é, para alguns um lugar sagrado ou a morada de um deus. O fato é que as montanhas causam no homem perplexidade diante de sua natureza descomunal e instigam a percepção de seu tamanho, insignificante, ínfimo diante da grandeza do mundo e da natureza que o cerca. A montanha simboliza a ruptura entre os níveis, do racional para o imaginário que ilustra os sonhos, faz a ligação entre o céu e a terra.
O ritual de preparação, o ato da subida, a busca pela imensidão faz parte do íntimo de muitos indivíduos, que não se contentam apenas à contemplação. É um momento de introspecção, a viagem se interioriza. O sentimento de subir é indizível, o silêncio é rompido pela respiração ofegante. O cume se aproxima!
A palavra montanhismo causa repulsa da ideia de perigo ou até mesmo de loucura, porém, o êxtase das alturas está ligado ao ser humano, incontestavelmente, como a experiência de algo sublime, que nos permite enxergar e sentir que fazemos parte de um todo muito maior, que nunca vamos compreender.
Filosofia a parte agora é hora de colocar a mochila nas costas e partir morro acima em busca da conquista do Pico dos Marins.
O caminho das pedras começa no acampamento na base do Pico de Marins aqui já é possível olhar para cima e ver a imponente montanha, neste ponto já estamos a mais de 1400 metros de altitude, o caminho até chegar lá em tem mais 1000 metros de elevação. A trilha se inicia no fundo do acampamento após passar por uma Igreja Batista e uma placa de orientação, você já estará no caminho para Marins, neste ponto temos uma mata fechada com árvores características da Mata Atlântica e Araucárias, seguimos em frente em meio a um sobe e desce chegamos a uma estrada de terra, neste instante já tínhamos retirado a maioria das blusas que estávamos vestidos quando saímos do abrigo.
A estrada de terra que chegamos foi construída por uma velhinha fazendeira da região que queria chegar até o Morro do Careca a 1797 metros de altitude para ver o por sol, neste ponto você já começa a ter noção da imensidão das serras e maciços montanhosos da Serra da Mantiqueira que estão ao seu redor, à estradinha de terra é bem acidentada, tendo acesso até um ponto onde está restrito para veículos e a partir dali é com as forças das pernas e com auxílio das mãos que você chegará ao cume.
Subindo por meio dessa trilha começam a surgir às primeiras pedras, que estarão presentes pelo caminho todo, mais o terreno aqui basicamente formado de terra, sendo em alguns momentos escorregadio, eis que depois de vencer esta primeira subida, chegamos ao Morro do Careca, paramos para descansar e tirar várias fotos. O morro do Careca é uma área descampada em um platô que parece mesmo com uma cabeça com problemas capilares, descansados e alegres seguimos em frente, descemos uma pequena trilha e já foi possível avistar a placa da APA indicando a Trilha do Pico dos Marins, a APA deveria ser o órgão que cuidaria do local, porém não é observado em momento algum este cuidado.
Cruzando a placa da entrada da trilha ainda com a presença da Mata Atlântica no percurso, é possível notar que foram colocadas algumas tábuas no chão para servirem de degraus, com a ação da chuva e do vento esses degraus naturais haviam desaparecido. Poucos metros acima começa a primeira rampa de pedra para ser subida, que se desenvolve pelas cristas dos morros de forma bem acentuada, aqui paramos para comer nosso poderoso lanche da Coqvinaria empresa parceira do Pé no Mundo, para ganhar força para continuar subindo e subindo.
Cada trecho passado era uma conquista e o cume estava mais próximo, a distância do acampamento até o cume são 6,5 quilômetros pode parecer pouco, mais a elevação é grande estimasse que demore em torno de 4 a 8 horas para subir dependendo do nível e preparação dos aventureiros.
O presente que ganhamos da montanha neste ponto é uma série de pedras que pareciam esculturas naturais moldadas pela chuva e o vento, duas pedras empilhadas com pequeno graveto no meio parecendo que este pequenino galho está segurando as duas rochas, uma pedra com formato de golfinho, andorinha ou qualquer outro bicho depende da imaginação.
Enfim passamos também um portal formado por duas pedras estas são simbolicamente a entrada formada pela natureza para trilha do Pico de Marins, não foi o nosso caso mais não é difícil se perder na região, a trilha possui algumas várias sinalizações de setas feitas de tinta e alguns totens de pedra, porém as pessoas com intuito de ajudar acabam fazendo estas indicações em pontos estrategicamente diferentes podendo causar dúvidas e possivelmente as pessoas poderão se perder caso não estejam com um GPS ou um guia experiente.
Entre uma parada para descansar e uma subida inclinada, as horas foram passando, o cansaço chegando, o tempo estava ensolarado, porém devido ao vento constante em alguns pontos ainda estava bem frio.
Chegamos a mais uma rampa com subida inclinada que tinha um pouco de terra, deixando o local bem escorregadio, neste ponto foi necessário que nosso grande amigo Silvio auxiliasse a galera a dando apoio na escalaminhada, depois de alguns escorregões e ele quase perder as calças para apoiar o pessoal vencido mais este obstáculo.
Particularmente a partir desta subida comecei a sentir os efeitos do meu medo de altura, já estava cansado, com uma gripe mal sarada que dificultava a respiração e a tensão das dificuldades das subidas começaram a afetar meu psicológico.
Caminhamos mais um pouco subindo e descendo entre pedras com a vista maravilhosa da Serra da Mantiqueira em território mineiro, aqui tivemos que passar uma parte da trilha onde que havia uma pequena fenda de pedra que deveríamos pisar e apoiar na pedra acima e em seguida girar o corpo e descer escorregando, o obstáculo nível fácil comparado com o que nos aguardava a frente.
Chegamos então ao “El cruce” deve ser assim que escreve, uma pedra de mais ou menos quatros metros deverá ser escalada via as fendas das pedras, o bom que as fendas servem de apoio para as mãos e os pés, a tensão aqui foi grande tirei até a mochila para subir, mais com ajuda do Silvião e do grande amigo, psicólogo e montanhista, cozinheiro Lebo venci esse obstáculo.
Já estávamos perto do nosso destino, porém os graus de dificuldade das rampas começavam a aumentar, e a presença do Lebo junto com Silvio também foi importante para guiar e dar tranquilidade para a galera alcançar o cume do Pico dos Marins.
Continuamos em frente já era possível avistar o Pico dos Marins cada vez mais próximo de nós, e de longe já eram visíveis às pessoas subindo pela encosta inclinada da montanha, essas cenas começavam a atormentar a minha cabeça e o psicológico ficava mais comprometido a cada metro que se aproximava o desafio final do ataque ao cume de do Pico de Marins.
Mesmo com toda a dificuldade continuei em frente, vencemos mais uma rampa inclinada de pedra, aqui neste ponto cruzamos com o local onde se separam as Trilha da Travessia de Marins – Itaguaré e o acesso ao Pico de Marins, passamos por um charco seco devido à época de escassez de chuvas, subimos outra rampa e descemos até que cruzamos com a nascente contaminada do Ribeirão Passa Quatro que desemboca no Rio Piquete, essa água não pode ser utilizada devido ao mal uso do local pelas pessoas que acampam fazendo suas necessidades fisiológicas em qualquer lugar contaminando toda a área.
Mais uma rampa de pedra concluída chegamos a base do Pico dos Marins, aqui foi possível identificar pessoas acampadas que não conseguiram espaço para armar as suas barracas no cume da montanha.
A trilha para chegar até o Pico dos Marins cruzamos com várias pessoas que iriam acampar como nós, outras que apenas iriam fazer um bate e volta, outros que fariam a Travessia, também tinham cachorros que acompanhavam as pessoas muito bacana, mas o que mais marcou foi reencontrar o nosso anjo da guarda da madrugada anterior, Dona Raquel cruzamos com ela subindo a montanha e foi possível agradecer novamente a ajuda da última madrugada.
Enfim chegava a hora atacar o cume do Pico dos Marins, para nos ajudar a pequena grande amiga Marcinha e o Waze da montanha George nós encontraram, eu nesta altura já estava com nervos à flor da pele e olhava para aquela montanha e tentava me acalmar, esse ponto a escalaminhada era de um impressionante paredão com cerca de 150 metros de extensão e bastante íngreme, daqui para cima é ter fé na aderência do calçado, engatar a tração nas quatro (pés e mãos), invocar a proteção de seu anjo da guarda e partir para o ataque final.
No meu caso tive a ajuda especial da Marcinha e do Lebo que me acompanharam a subida toda metro a metro, cada vez mais próximo enfim consegui venci com a ajuda dos meus amigos, eu estava no cume do Pico dos Marins. Chegando lá foi recebido por todos com vários abraços e cumprimentos, recebi um carinho especial da minha amada Memê que me deu muita força, eu estava meio debilitado ao concluir o percurso e fui descansar para poder curtir o visual daquele lugar especial, demoramos cerca de sete horas para subir mais enfim todos conseguimos vencemos o cume do Pico dos Marins estávamos a 2420 metros de altiude.
No cume a vista é de 360 graus de leste para oeste temos o Pico do Itaguaré com a Serra Fina e a Pedra da Mina atrás dele, depois teremos as cidades de Cruzeiro, Cachoeira Paulista, Canas, Lorena, Guaratinguetá, Aparecida e Roseira, é possível ver trechos do rio Paraíba do Sul banhando algumas destas cidades. Mais próximo da Serra da Mantiqueira e a oeste vê-se a cidade de Piquete, município ao qual pertence o Pico dos Marins, no sentindo noroeste veremos o Morro do Careca e continuando o nosso giro panorâmico vislumbramos alguns dos maciços e algumas das muitas pedras que encontramos pelo caminho. Olhando para lado nordeste temos o Pico do Marinsinho e para terminar, em toda a região do Sul de Minas Gerais tudo o que se vê são as suas belas montanhas e a estrada que conduz aos municípios de Marmelópolis e Passa Quatro.
Após descansar na minha barraca para recuperar do esforço do trajeto, tranquilizar o psicológico da subida, dormir um pouco coisa que não foi possível fazer na noite anterior, a galera estava bem animada curtindo visual da montanha, dividindo um copo de vinho e alguns salgadinhos e quitutes para enganar a fome antes do jantar.
3. *A dança das nuvens*
O entardecer ia caindo o sol já estava indo embora e uma das coisas que não nem por um minuto era o vento, a ventania era constante, está condição climática deixa o ambiente mais frio, daí começo a entender o porquê do famoso agasalho de frio quebra vento, só vestindo esse tipo de roupa para aguentar friaca do cume da montanha.
Já mais calmo cheguei perto de alguns abismos e apreciei a vista vislumbrante do local, o Lebo me ajudou a ficar mais tranquilo e o espetáculo da natureza proporcionado pelo astro rei foi incrível, a cada minuto o sol ia se pondo no horizonte lentamente e com isso o céu ia ficando degrade várias cores estavam presentes, várias fotos uma mais legal que outra foram tiradas de diversos ângulos.
Outra cena marcante do cume do Pico de Marins é a dança das nuvens, devido ao vento constante as nuvens realizam uma dança frenética dissipando e acumulando rapidamente de todos os lados, proporcionando cenários maravilhosos. Literalmente estávamos nas nuvens e elas vinham em nossa direção como fosse nos molhar como água, as nuvens subiam rapidamente a encosta do morro e desciam como um escorregador do outro lado em um destes casos parecia até uma cachoeira.
Essas nuvens são classificadas como do tipo cumulus ou cumulonimbus e são formadas em desenvolvimento vertical devido às condições climáticas da região e as encostas das altas montanhas e outro fator que contribui são ventos, que estão sempre presentes no local. Mesmo a noite com pouca luz é capaz desse ver as nuvens se movimentando.
Após curtir o local e ver o sol se pondo no horizonte, a noite chegou e a escuridão tomou conta, o escuro era quebrado por conta de algum head lamp ou lanterna, o frio aumentava e o vento não parava, Silvio e Lebo prepararam o jantar aquele que eu trouxe, o cardápio tinha macarrão e diga se passagem estava muito bom. Alguns dos nossos amigos já cansados começaram a se recolher para as barracas outros ficaram naquela resenha bacana contando suas histórias e se divertindo para espantar o frio.
Lá de cima era possível apreciar as cidades lá do alto, todas iluminadas e a belíssima noite estrelada, estava cansado e fui dormir parte da galera ficou para ver a lua nascer. A lua foi nascer por volta de nove e vinte da noite, essas horas já estava dentro do meu saco de dormir, quem viu e contou disse que estava incrível a Lua e mais este espetáculo foi contemplado pela galera mesmo com todo o frio que fazia e a sensação térmica por causa do vento era menor.
A noite foi relativamente tranquila, embora não parou de ventar um minuto e as barracas que balançaram bastante, mas aguentaram firme. A noite foi gelada, mas meu saco de dormir e as blusas me mantiveram bem quentinho.
O dia amanheceu por volta das seis horas da manhã, neste momento houve um agito geral no cume da montanha, todo mundo acordando e chamando os colegas de barraca ao lado, pois o espetáculo do nascer do sol irá começar dentro de alguns minutos. Todas as blusas disponíveis na mochila foram colocadas e fomos achar um lugar bacana para ver o sol nascer. Estava tão fria que para tirar a luva para apertar o botão para fotografar estava muito difícil, a mão parecia que ia congelar.
Passado o espetáculo proporcionado pela mãe natureza, chegou a hora de tomar café para se encher de energia, pois temos que desmontar o acampamento e descer o morro abaixo. Recolhemos todo nosso lixo para que aquele lugar possa permanecer maravilhoso por muito tempo, barracas desmontadas e mochilas nas costas.
O último ato no cume do Pico dos Marins foi o tradicional grito que ecoou montanha abaixo e se espalhou junto com as nuvens pelas terras altas da Mantiquera,... 1 ... 2 ... 3 ... PÉ NO MUNDO.
Não poderia deixar de falar de uma flor que demonstra a força da montanha, o Lírio da montanha ou podendo ser conhecida como Lírio Amaryllis, uma flor de cor vermelha que surge junto às rochas, é uma planta que tem que ser resistente ao frio e o vento para sobreviver naquelas condições, essa é a dama de vermelho que reina virtuosa e singela junto ao reinado da montanha, mais um espetáculo proporcionado pela mãe natureza.
4. *Superando o medo*
Um ditado popular famoso diria para baixo todo santo ajuda, esse foi lema da descida do morro, com todo o cuidado e um pouco tenso, mas já um pouco mais confiante comecei a encarar as descidas, a maior parte delas foram feitas com bumbum no chão e com ajuda das mãos para se apoiar e sempre contando com auxílio dos grandes amigos Lebo, George e Yudi que também estavam auxiliando a Memê.
A galera partiu na frente com mesmo espírito se não dava para ir em pé, bunda no chão e vamos em frente, devido ao receio da altura fiquei num grupo um pouco para trás e fomos lentamente caminhando rumo ao acampamento do Marinzeiro.
A volta costuma ser mais rápida do que a ida, devido ao número maior de descidas, porém os joelhos são mais castigados devido ao impacto para caminhar e se equilibrar no terreno rochoso. A certa altura do percurso pisei mal em uma pedra e tive uma torção leve de tornozelo e joelho, neste instante comecei a sentir os males da descida da montanha.
A dor me acompanhou durante o restante do caminho, em algumas pedras para subir e dar impulso para transpô-las contei com a ajuda dos meus amigos, mais foi possível apreciar as belezas naturais do caminho que durante a ida passaram despercebidas.
Nos piores obstáculos que tivemos na ida o nosso guia / psicólogo / cozinheiro Lebo procurou um caminho menos tortuoso para tentar diminuir a tensão quanto à altura, esse fator ajudou a diminuir a tensão e também poupar as articulações doloridas. Mesmo assim a descida do El cruce foi bem tensa, superado este ponto só faltavam superar algumas rampas inclinadas e logo estaríamos no Morro do Careca.
As dores no joelho estavam atrapalhando meu rendimento para caminhar, foi quando o Silvio pegou a minha mochila acoplou com a dele e carregou o restante do percurso, senti um alivio, pois o peso da mala estava aumentando o desconforto. Neste ponto o Silvio e o Lebo aumentaram a velocidade na trilha, nos deixando na companhia do George, eles seguiram em frente, pois a nossa amiga Silvia estava passando mal devido ao sol e esforço para descer a montanha.
Continuamos em frente eu, Memê, Yudi guiados pelo George nesta altura do caminho já estava usando um bastão de apoio que me ajudou a apoiar das depressões do terreno da trilha, logo já era possível enxergar abaixo o Morro do Careca, em alguns momentos quando pensamos em descansar lembrávamos que estávamos próximos do nosso destino e sabíamos que o Morro do Careca é perto do fim da trilha.
Neste ponto da descida a única coisa que estava fazendo falta era água, nossa água havia acabado a alguns quilômetros atrás, já próximos da placa APA da entrada da trilha do Pico dos Marins uma menina gentilmente nos ofereceu água que serviu para diminuir a sede e aumentar o folego para encerrar nosso desafio.
Também neste momento encontramos o Lebo apoiando a Silvia, ele estava junto com ela dando o suporte para ela, essa cena demonstra muito da preparação da equipe do Pé no Mundo para uma situação como aquela, o Silvio havia ido para o acampamento para buscar o carro e encontra-los para prestar todo o suporte necessário.
Para gente continuamos em frente em busca de terminar nosso trekking, pois agora faltava pouco, continuamos descendo a trilha, e alguns comentários pelo caminho eram sobre a vontade de tomar uma cerveja bem gelada, mais no acampamento não tem bebida alcoólica então serve uma Coca Cola bem gelada mesmo.
Quando terminamos a trilha de acesso ao Morro do Careca cruzamos a porteira, quando iriamos parar para descansar um pouco para recuperar o folego para terminar a trilha até o acampamento, eis que surgem de carro o Silvio e nosso grande amigo Sergião, nossa aos vê-los ficamos muito felizes e logo pedimos vocês tem água, de prontidão uma garrafa de água gelada foi tirada do carro e cada um se deliciou com aquela fonte de vida preciosa, mais o desejo que estávamos comentando na trilha de beber uma Coca Cola gelada se realizou, a Camila tira de uma sacola plástica uma lata de Coca, imagina a felicidade daquele momento, nunca tinha bebido uma Coca Cola com tanto gosto.
Passamos para eles as referências sobre o posicionamento da Silvia e do Lebo na trilha para que pudessem subir para auxiliar, e em seguida junto com Sergião voltamos de carro para o acampamento do Marinzeiro. A chegada ao abrigo foi um alivio e uma satisfação imensa, tínhamos enfim concluído o Trekking do Pico dos Marins, a sensação era êxtase total, porém ainda não tinha ideia da proporção que isso representava, acho que aos poucos a ficha vai começar a cair.
A primeira coisa que fiz ao chegar ao acampamento, agradeci a papai do céu por ter conseguido concluir está aventura, em seguida arranquei o tênis e as pernas da calça, meus pés e joelhos estavam bem doloridos e precisavam de um pouco de descanso, depois de um banho e um comprimido de Advil já me sentia bem melhor.
Só faltava agora para concluir o desafio Pico dos Marins almoçar e diga se de passagem, a comida caseira do acampamento Marinzeiro é espetacular, costelinha, truta, farofa, arroz e feijão salada de couve com pimenta, valeu repetir a pratada e comer a vontade para reabastecer as energias.
Importante todos concluíram o trekking bem foi uma troca de experiência incrível, para mim foi um desafio pessoal vencido contra os meus medos e o respeito pela montanha foi fortalecido, espero um dia voltar lá mais preparado do que foi desta vez.
Pegamos a estrada de volta para casa agora pelo caminho certo, cada vez que olhava pelo retrovisor e via o Pico dos Marins ao fundo não acreditava que tinha conseguido chegar lá em cima e estado tão próximo das nuvens.
*** DESAFIO PICO DOS MARINS CONCLUÍDO ***
Queria agradecer a Família Pé no Mundo por proporcionar tamanho desafio de superação para minha vida pessoal e conjugal, como a galera estava dizendo OBRIGADO TIME todos vocês foram importantes nesta conquista e acredito que saíram pessoas diferentes depois deste final de semana.
5. *A montanha da vida*
A vida pode ser comparada à conquista de uma montanha. Como a vida, ela possui altos e baixos. Para ser conquistada, deve merecer detalhada observação, a fim de que a chegada ao topo se dê com sucesso.
Todo alpinista sabe que deve ter equipamento apropriado. Quanto mais alta a montanha, maiores os cuidados e mais detalhados os preparativos.
No momento da escalada, o início parece ser fácil. Quanto mais subimos, mais árduo vai se tornando o caminho.
Chegando a uma primeira etapa, necessitamos de toda a força para prosseguir. O importante é perseguir o ideal: chegar ao topo.
À medida que subimos, o panorama que se descortina é maravilhoso. As paisagens se desdobram à vista, mostrando-nos o verde intenso das árvores, as rochas pontiagudas desafiando o céu. Lá embaixo, as casas dos homens tão pequenas...
É dali, do alto, que percebemos que os nossos problemas, aqueles que já foram superados são do tamanho daquelas casinhas.
Pode acontecer que um pequeno descuido nos faça perder o equilíbrio e rolamos montanha abaixo. Batemos com violência em algum arbusto e podemos ficar presos na frincha de uma pedra.
É aí que precisamos de um amigo para nos auxiliar. Podemos estar machucados, feridos ao ponto de não conseguir, por nós mesmos, sair do lugar. O amigo vem e nos cura os ferimentos.
Estende-nos as mãos, puxa-nos e nos auxilia a recomeçar a escalada. Os pés e as mãos vão se firmando, a corda nos prende ao amigo que nos puxa para a subida.
Na longa jornada, os espaços acima vão sendo conquistados dia a dia.
Por vezes, o ar parece tão rarefeito que sentimos dificuldade para respirar. O que nos salva é o equipamento certo para este momento.
Depois vêm as tempestades de neve, os ventos gélidos que são os problemas e as dificuldades que ainda não superamos.
Se escorregamos numa ladeira de incertezas, podemos usar as nossas habilidades para parar e voltar de novo. Se caímos num buraco de falsidade de alguém que estava coberto de neve, sabemos a técnica para nos levantar sem torcer o pé e sem machucar quem esteja por perto.
Para a escalada da montanha da vida, é preciso aprender a subir e descer, cair e levantar, mas voltar sempre com a mesma coragem.
Não desistir nunca de uma nova felicidade, uma nova caminhada, uma nova paisagem, até chegar ao topo da montanha.
* * *
Para os alpinistas, os mais altos picos são os que mais os atraem. Eles desejam alcançar o topo e se esmeram.
Preparam-se durante meses. Selecionam equipe, material e depois se dispõem para a grande conquista.
Um desses arrojados alpinistas, Waldemar Nicliewicz, o brasileiro que conquistou o Everest, disse: Quem de nós não quer chegar ao alto de sua própria montanha?
Todos nós temos um desejo, um sonho, um objetivo, um verdadeiro Everest. E este Everest não tem 8.848 metros de altitude, nem está entre a China e o Nepal. Este Everest está dentro de nós.
É preciso ir em busca deste Everest, de nossa mais profunda realização.
* * *
E aprendemos com o Mestre Silvio que nos proporcionou essa aventura...
A FORÇA DA MÃE NATUREZA É DESCOMUNAL, A MONTANHA DEMANDA RESPEITO, PORQUE ELA TE FAZ VENCER SEUS DEMONIOS.
Autor: Fernando Godoi Pudo